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As lavouras de café arábica das regiões em que está presente a Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Sul e Cerrado de Minas e média mogiana do estado de São Paulo), assim como em outras do Brasil, estão sofrendo com a severidade do clima neste ano e os danos à planta devem impactar negativamente a safra de 2021. Esta conclusão, apresentada por especialistas durante o 2º Fórum Técnico Café e Clima promovido pela Cooxupé, está baseada no fato destas regiões cafeeiras estarem há mais de 120 dias sem a ocorrência de chuvas suficientes para manter o déficit hídrico adequado para a cultura. Aliada à falta de chuvas, a ocorrência de altas temperatura agravou ainda mais o quadro de depauperamento dos cafezais.

“Há alguns anos o clima vem atuando com grande influência na produção cafeeira. É muito importante frisarmos que o café arábica é caracterizado por ciclos, ou seja, bienalidade alta e baixa. Por isso, nossos parâmetros comparativos compreendem a safra de 2021 com a de 2019, que por natureza são colheitas menores em relação aos anos pares”, explica o presidente da Cooxupé Carlos Augusto Rodrigues de Melo.

Éder Ribeiro dos Santos, Coordenador do Departamento de Geoprocessamento da Cooxupé, explica que as lavouras apresentaram condições mais favoráveis até o início de julho, porém desde a segunda quinzena daquele mês as temperaturas máximas vêm subindo consideravelmente. “A planta e o solo perderam mais água, já configurando uma situação mais crítica. As lavouras estão em uma condição mais comprometida por conta do ano de safra alta e vêm enfrentando, desde abril, longo período de seca e de armazenamento baixo. Este déficit hídrico elevado faz com que a planta entre em exaustão gastando sua reserva, saindo desta safra alta em condições muito ruins”, pontua.

Segundo ele, já maio de 2020, o armazenamento de água no solo estava em torno de 30 a 40% da capacidade de campo. Já o déficit hídrico acumulado de janeiro a setembro de 2020 está até duas vezes maior comparado ao de 2019.

Florada

As chuvas ocorridas no final de agosto e de setembro promoveram abertura de duas floradas. A do início de setembro, de média intensidade em lavouras novas e podadas, não deve gerar grandes surpresa na safra de 2021, segundo o engenheiro agrônomo e professor doutor José Donizeti Alves (UFLA- Universidade Federal de Lavras). Já a florada aberta no início de outubro, de alta intensidade em todas as lavouras, pode ter melhor pegamento se a temperatura estiver mais amena e se as chuvas ocorrerem de maneira mais regular ainda no mês de outubro. “As consequências para a próxima safra brasileira de café 2021/2022 já existem. As chuvas frearão as perdas desde que contribuam regularmente até o final do ano (30 dias críticos após a florada), período importante para o pegamento e estabelecimento do chumbinho. As perdas serão proporcionais ao grau de desfolha das lavouras e o cafeicultor deve estar bem atento a essa questão”, alerta o especialista.

Diante da crise hídrica nas lavouras cafeeiras, o engenheiro agrônomo e professor doutor Paulo César Sentelhas (Esalq/USP) complementa a necessidade de haver chuvas daqui para frente de pelo menos 600 milímetros. “Se isto não acontecer muito provavelmente teremos um ano classificado como anomalia. As condições meteorológicas que vêm prevalecendo na maioria das regiões produtoras de café analisadas têm impactado as lavouras para a safra2020/21, com expectativa de quebra de produtividade decorrentes do déficit hídrico elevado, na queda de folhas, na formação dos ramos e das gemas, no pegamento da florada e na escaldadura das folhas. Há previsões de chuvas no final de outubro e novembro, no entanto até o estabelecimento da estação chuvosa a deficiência hídrica deverá continuar afetando a construção da próxima produtividade”, completa.

Para o agrônomo, consultor e produtor de café Guy Carvalho, são dias de apreensão. “É muito grande a privação hídrica das lavouras, principalmente no Sul de Minas e no estado de São Paulo. Algumas lavouras, mesmo boas que produziram pouco este ano ou podadas recentemente, estão apresentando grande desfolha desde o final de agosto para cá. Já lavouras mais velhas estão ainda piores e devem receber a poda. É um quadro irreversível e preocupante”, define.

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