Emater-MG faz levantamento de iniciativas de vendas on-line por agricultores familiares durante a pandemia

Foto: Divulgação

Um levantamento feito pela Emater-MG mostra que as iniciativas de vendas on-line de produtos da agricultura familiar aconteceram em quase todo o estado, após a surgimento da pandemia da Covid-19. O estudo preliminar identificou 35 iniciativas de comercialização, usando os canais virtuais, que contaram com orientação e assistência da empresa, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).

Em muitos locais, as vendas nos sistemas tradicionais foram prejudicadas.  Um exemplo foi a suspensão de feiras livres e da comercialização de produtos da agricultura familiar para alimentação escolar em várias cidades. Por isso, produtores e técnicos da Emater-MG buscaram alternativas para o escoamento da produção de pequenas propriedades.

“O uso de plataformas digitais era pouco explorado pelo segmento da agricultura familiar, principalmente quando as vendas eram feitas na região de produção. Com o surgimento da pandemia, foi a alternativa que os agricultores tiveram para permanecer no mercado e garantir a renda da família”, afirma o coordenador estadual de Comercialização e Gestão da Emater-MG, Raul Machado.

As frutas, hortaliças e produtos processados, como queijos e doces, são os itens mais vendidos pelos agricultores familiares com a ajuda das ferramentas digitais. Este grupo representa 77% das vendas pelos canais virtuais.

De acordo com o levantamento, as 35 experiências de vendas on-line envolvem 1.501 agricultores familiares. Quase todas as iniciativas são feitas em grupos de até 50 produtores rurais e estão localizadas, principalmente, nas regiões Nordeste (34%), Norte (26%) e Sul (23%) de Minas Gerais.

A Emater-MG estima que, com comercialização on-line, os produtores das experiências identificadas atingem mais de 10,6 mil clientes. A maior parte das vendas (88%) está focada no consumidor final e 12% já incluem o comércio varejista entre a clientela.

Ferramentas

O aplicativo de troca de mensagens Whatsapp é a ferramenta preferida para as negociações. Em 46% das experiências, ele é o único meio utilizado. Já uma parcela de 28% utiliza, além do aplicativo, as redes sociais como Facebook e Instagram. Também há casos de usos de sites, blogs e aplicativos de venda.

“Quase todos os agricultores não tinham conhecimento de como oferecer os produtos usando essas plataformas digitais. Foi um aprendizado para eles,  que contaram com o apoio da Emater-MG, prefeituras, sindicatos e outras instituições. Há casos até de trabalho voluntário de pessoas que criaram as contas nas redes sociais para que os agricultores pudessem vender”, afirma Raul Machado.

Na maioria das vendas on-line (85%), os clientes recebem os produtos em casa. Já em 15% dos casos, as entregas são feitas em residências e também em pontos estabelecidos para retirada pelos consumidores.

Apesar de ser novidade para muitos, o aprendizado para usar as ferramentas digitais na comercialização dos produtos não foi a maior dificuldade relatada pelos agricultores. Segundo a pesquisa, o transporte para entrega direta aos consumidores foi o item mais citado, com 31% das respostas. Por outro lado, a mesma porcentagem de produtores informou que não teve nenhuma dificuldade para se adaptar à nova realidade.

A coordenadora estadual de Organização e Mercado da Emater-MG, Ana Luiza Resende, considera normais as dificuldades enfrentadas pelos agricultores no início da comercialização pela internet.  “A gente observou dificuldade com o controle das vendas, recebimento de pedidos e, principalmente, com a logística da entrega. Por ser uma coisa nova, é normal que eles tenham dificuldade, pois estão aprendendo”.

Ela observa ainda a atuação da Emater-MG, em parceria com as prefeituras e demais instituições, foi fundamental para o uso das plataformas digitais na comercialização pelos agricultores. “A Emater-MG tem um grande potencial para trabalhar nestas estratégias para escoar a produção. A maior leitura que faço, é de que os agricultores se adaptaram rapidamente e foram à luta para não ficar sem renda.  E o papel da Emater, como empresa de assistência técnica, contribuiu muito para que isso fosse possível. Foi muito bom para todos os lados desta parceria”.

Pós-pandemia

Para Ana Luiza, os novos canais de comercialização pelos agricultores familiares vieram para ficar, mesmo quando a pandemia já estiver controlada. “A venda pela internet deve ser considera como outro importante canal de comercialização, além daqueles que já eram utilizados. Essa pandemia está mostrando para os empreendedores, incluindo os agricultores familiares, que eles devem incorporar esta alternativa, evitando que sofram tantos impactos financeiros quando ocorre uma situação como esta que estamos vivendo”, afirma a coordenadora.

Um exemplo vem de Rio Preto, na Zona da Mata. Após o surgimento da pandemia, a feira local foi suspensa. Com dificuldade de escoar a produção, agricultores familiares procuraram a Emater-MG para pensar numa alternativa.  Com a participação da prefeitura e voluntários das áreas de gestão tecnologia e marketing,  foi criada a Feira Livre On-Line.  Cerca de 26 agricultores familiares e feirantes passaram a adotar este sistema para a venda de queijos, biscoitos, bolos, pães, doces, ovos, hortaliças, artesanato e frutas.

Os produtos são anunciados pelas redes sociais, como Instagram e Facebook.  Semanalmente, são postadas fotos e informações dos itens que estarão à venda, para serem entregues pelos produtores, aos sábados. Os pedidos também podem ser feitos pelo aplicativo de mensagens Whastapp.

“Após o término da pandemia da Covid-19, há a intenção de manter a feira on-line, atuando em conjunto com feira presencial, devido ao grande impacto positivo. Podemos ressaltar a maior visibilidade que os produtores estão tendo, a maior organização dos feirantes e os serviços de tele-entrega”, afirma a técnica da Emater-MG em Rio Preto, Viviane Clementino.

O produtor Luiz Fernando da Costa preside a Associação de Feirantes de Rio Preto. Ele conta que ficou surpreso com as vendas on-line. Agora comercializa pães, doces, queijos e artesanato de bambu pelas redes sociais. Tudo produzido junto com a esposa.

“Surgiram novos clientes. Mesmo quem não ia à feira presencial, passou a ter acesso aos nossos produtos. A tecnologia é um recurso que todo mundo tem que usar agora.  Foi uma novidade que está revolucionando a agricultura familiar e a nossa feira”, afirma.

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