O tetracampeonato do Estadual (2011, 2014 2018 e 2019) e os bicampeonatos do Brasileiro (2013 e 2014) e da Copa do Brasil (2017 e 2018) mostram a força do Cruzeiro nos últimos 10 anos. Assim, o rebaixamento da primeira para a segunda divisão do Brasileirão em 2019 destoou dos anos vitoriosos da última década. Além do baixo desempenho dentro de campo e a demissão de 3 treinadores no segundo semestre de 2019, veio à tona no clube uma série de problemas, como atrasos de salários, dívidas milionárias contraídas ao longo de anos, eleição do conselho deliberativo se tornando embate judicial, saída de nomes do corpo diretivo (o ex diretor-geral Sérgio Nonato e o ex-vice-presidente de futebol Itair Machado) e suspeitas de crimes (pagamentos irregulares, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro).
Para os cruzeirenses, 2020 se tornou um ano dedicado à reconstrução. Nos seus 99 anos de existência, esta temporada é fundamental para reconduzir o clube à elite do futebol brasileiro no ano de seu centenário.
Se não bastasse o cenário nebuloso, acompanhado da pandemia do novo coronavírus (covid-19), que impactou as contas de todas as equipes brasileiras, a notificação da Federação Internacional de Futebol (Fifa) à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) sobre a perda de 6 pontos na Série B aumentou ainda mais a temperatura na Toca da Raposa.
A punição é referente à dívida contraída pelo empréstimo de 6 meses do volante Denílson junto ao Al-Wahda (Emirados Árabes Unidos), em 2016. À época, o jogador entrou em campo apenas em cinco oportunidades. O Cruzeiro deveria ter pago 850 mil euros (cerca de R$ 5 milhões) até a última segunda (18), o que não aconteceu. Em nota o clube explicou que não há possibilidade de recurso na Fifa e que busca um acordo com os árabes.
“Estamos negociando com o Al-Whada e vamos seguir até o último minuto, aguardando um desfecho positivo, para que o Cruzeiro não seja penalizado com a perda de pontos. Estamos vivendo um momento de exceção, em que o mundo está sofrendo com as consequências desta crise com o coronavírus. Todos sabem da falta de recursos do Cruzeiro e o clube teve suas receitas ainda mais comprometidas pela situação de pandemia”, diz o CEO do Conselho Gestor do time mineiro, Sandro Gonzalez.
Segundo Gonzalez, a falta de diálogo agravou o relacionamento com os credores: “Vínhamos tentando um adiamento para o segundo semestre, mas os dirigentes do Al-Whada foram taxativos. Disseram que o processo corre há mais de quatro anos na Fifa e ninguém do Cruzeiro, nenhum dirigente neste período todo, procurou o Al-Whada para buscar um acordo. Eles disseram que se sentiram frustrados e descrentes, e que por isso não poderiam facilitar nada para o Cruzeiro neste momento. Explicamos a eles que o clube também foi vítima de tudo o que aconteceu nos últimos anos, que agora são outras pessoas que estão à frente da instituição, e que temos a total intenção de resolver. Já tínhamos tratativas avançadas desde a semana passada, e vamos fazer de tudo para evitar qualquer tipo de punição ao Cruzeiro”.
O apresentador Orlando Augusto, da TV Horizonte, explica que até o ano passado ninguém sabia da dimensão da crise: “Tinha-se uma ideia da dívida de R$ 400 milhões deixada pela diretoria anterior sob o comando de Gilvan de Pinho Tavares, mas pagável. A administração do Wagner Pires de Sá e de Itair Machado triplicaram este valor. Caiu feito bomba estas dívidas, a Fifa”.
Em meio ao caldeirão em ebulição, o clube terá eleição presidencial nessa quinta (21). O vencedor do pleito sentará na cadeira de presidente durante 6 meses, entre junho e dezembro. O Cruzeiro está sendo gerido por um conselho diretivo desde dezembro do ano passado, quando o então presidente Itair Machado renunciou junto com outros diretores. Este é o motivo da necessidade de um mandato-tampão, que vai contar com dois candidatos: Sérgio Santos Rodrigues e Ronaldo Granata. Uma outra votação será realizada em outubro e nela será definida o mandatário para o triênio 2021/2022/2023.